terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Desenhando pessoas (2)

No post anterior falei sobre a simplificação da cabeça e linhas de divisão de cada elemento presente no rosto. Neste post falarei rapidamente sobre cânone e depois, sobre a organização de olhos, nariz, boca e orelhas, e suas relações no desenho.

Cânone
A palavra cânone vem do grego kanon, que significa "medida". É o conjunto de regras e medidas utilizado no campo das artes para fins de composição, fazendo com que o desenho/escultura/construção/etc fique harmônico e proporcional. Mas não é regra! Alguns artistas fogem completamente desses "padrões".

Essa história de medida perfeita começou lá no passado, quando havia um cuidado absurdo para se representar os deuses nas pinturas. Os egípcios utilizavam as medidas do faraó como regras de proporção de um desenho, em que o corpo perfeito teria aproximadamente a altura de 19 medidas do dedo médio do faraó.

 Cânone egípcio - 19x dedo do faraó

O modelo que mais utilizamos atualmente para desenho é o cânone clássico (esse "clássico" vem do Período Clássico),  em que se destaca o cânone de Policleto, com a altura do corpo equivalente à 7,5 cabeças.

Cânone de Policleto

Enfim, o povo grego é bem famoso pelo desenvolvimento das ciências como a filosofia e matemática, então isso acabava sendo utilizado nas artes da época, tanto em pinturas, quanto em esculturas, principalmente quando se representava divindades. Muito mais tarde, lá no período do Renascimento, encontramos novamente essa busca pela perfeição do corpo humano, estudos de relações entre as partes do corpo, estudo do que estava por baixo da pele, como os músculos funcionam, etc.

O mais famoso estudo sobre essas relações é o homem vitruviano de Leonardo da Vinci, em que o corpo humano se encontra dentro de um quadrado e um círculo ao mesmo tempo, em que o umbigo coincide com o centro desse círculo blábláblá.

Homen vitruviano - Leonardo da Vinci
clique na imagem para ampliar

Então, depois desse catatau de estudos feitos no passado, as divisões do rosto também seguem um cânone/padrão. O que todo mundo encontra nas revistinhas de "aprenda a desenhar" é algo parecido com esse aqui que eu tirei do livro Fun with a pencil (Andrew Loomis):

Método de divisão de cabeça de Andrew Loomis
Fun with a pencil, página 37

Simplificando esse desenho aí de cima, temos este aqui com as divisões básicas:

A cabeça se divide em 3 partes e meia

Agora vamos para o que interessa.

Nariz
Embora eu sempre comece a desenhar pela linha dos olhos, acho que é mais fácil estruturar o rosto pelo nariz. Ele se encaixa direitinho no cruzamento da linha vertical que divide a cabeça ao meio e na linha divisória dos espaços 2 e 3.


Olhos
Subindo as linhas laterais do nariz, encontramos os cantos internos dos olhos. O espaço entre um olho e outro equivale a medida de um olho. Na linha divisória entre os espaços 1 e 2 ficam as sobrancelhas.


Boca
A boca se encontra no espaço 3, mais ou menos na metade. Os lábios superiores podem ser encaixados acima da linha do círculo de base da cabeça, e o meio da boca coincide com o eixo vertical que divide a cabeça em duas partes. Se traçarmos linhas verticais situadas na metade dos olhos, encontraremos os cantos da boca.

Tomei a liberdade de editar a boca dessa cabeça aí.
Do jeito que o Loomis desenhou, parecia um biquinho.

Orelhas
As orelhas ficam dentro do espaço 2, dentro do círculo de construção da cabeça. Quando a cabeça está sendo desenhada/vista de frente, as orelhas estão em perspectiva. Se desenhar as orelhas de frente em um rosto também visto de frente, seu desenho ficará com "orelhas de abano". Muita atenção pra isso!


Cabelo
A base do cabelo começa a ser desenhada na linha divisória entre os espaços 1/2 e o 1. É um problema parecido com o das orelhas: a cabeça está sendo vista de frente, então o topo dela está em perspectiva. Se você desenhar a visão de cima e de frente ao mesmo tempo, sua cabeça ficará alongada que nem a de um alienígena (não que eu já tenha visto um na minha vida! Nem pretendo...).


Exercícios:
1 - Usando modelo vivo ou modelo fotográfico, desenhar 10 olhos, 10 orelhas, 10 narizes, 10 bocas para exercitar o olhar e a representação. Explore bastante os volumes, trabalhando luz e sombra.

2 - Com base no que foi visto aqui e no Desenhando pessoas (1) desenhar duas cabeças. O ideal é que fossem ângulos variados, para treinar mesmo!


Gostaria de acompanhar o progresso e os exercícios feitos. Fique a vontade para deixar o link dos trabalhos como comentário, ou mandar por e-mail se quiser.

Até a próxima! o/

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Desenhando pessoas (1)

A cabeça
Esse post é continuação do Desenhando pessoas (0). Hoje eu vou falar um pouquinho sobre a estrutura da nossa cabeça e o meu entendimento de como desenhar as coisas a partir dela.

Atualmente nós, seres humanos, por baixo de toda essa pele e músculos da cabeça, temos o crânio bem parecido com o desta figura:

Nosso crânio =)

E eu acho importante compreender o funcionamento dos ossos dele para saber como os músculos vão se apoiar, e depois a pele sobre os músculos, dando forma ao rosto e expressões faciais. O formato do crânio pode ajudar tanto na diferenciação de etnias quanto na diferenciação do sexo das pessoas. Há na estrutura óssea da cabeça alguns elementos bem marcantes, e para facilitar um pouco o entendimento, dividirei a cabeça em duas partes: parte de cima e parte de baixo! =P

Na parte de cima o que chama mais atenção são as cavidades oculares (buraco dos olhos), a cavidade nasal (ali onde a cartilagem do nariz vai crescer), e as laterais achatadas. Na parte de baixo temos a mandíbula, um osso completamente solto da parte de cima. Na foto parece que é colado, mas na vida real existem articulações que fazem essa parte se manter unida à parte de cima, abrindo e fechando a boca.

...mais ou menos assim.

Geralmente os autores daquelas revistas que ensinam a desenhar começam a explicação da cabeça como sendo uma bola dividida com vários tracinhos, um pra linha dos olhos, outro pra linha do nariz, outro pra linha de sei-lá-o-que... Eu também poderia começar por aí, mas queria explicar como uma coisa leva à outra. Seguir fórmula dá resultado, mas entender como a fórmula foi criada permite até que você crie a sua própria maneira de resolver o problema.

Como chegaram na "fórmula"

A busca pelo conhecimento é algo da nossa natureza, e algumas pessoas tem mais disposição que outras para correr atrás das respostas para as perguntas. Considero fundamental desenvolver o próprio caminho e, muito antes de começar a fazer a disciplina de desenho 3, eu já tentava inventar minha fórmula.

Tentativa de 2009 - morro de rir

Quando se faz a representação do rosto de uma pessoa, seja um desenho ou uma escultura, por mais que o foco seja só o rosto, é necessário desenhar a figura até a altura dos ombros. Esse tipo de representação recebe o nome de "busto".

Busto  - esqueleto 

Exercícios
"Exercício?! Que coisa chata, Nane!"
Bom, é um mal necessário... Se eu quero ser uma boa desenhista, eu preciso praticar a teoria aprendida. Os exercícios que eu deixo no post de hoje foram os que eu fiz em sala de aula e espero que ajude. Se quiser fazer e me mostrar o resultado depois, fique a vontade!

1 - Faça alguns croquis (desenhos rápidos, esboços) de crânios. Estude a marcação de luz e sombra também, afinal de contas, esses elementos dão volume ao desenho.
Resultado do meu exercício.

2 - Tente desenhar a cabeça de algumas pessoas levando em consideração sua estrutura.
Meu queridos amigos que forçadamente posaram pra mim durante a aula. =*

Por hoje chega.
Até a próxima! o/

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Desenhando pessoas (0)

Oi! Tudo joia?
Neste período eu quis me matricular numa disciplina do curso de Artes (Ufes) chamada Desenho 3, em que aprendemos a representar o corpo humano por meio de desenho. Para isso, estudamos estruturas ósseas, musculatura, anatomia, sempre partindo da unidade para o conjunto. Ou seja, para desenhar um rosto, primeiro tivemos que desenhar muitos olhos, orelhas, narizes e bocas, entendendo a estrutura de cada parte separado para depois compor um rosto inteiro.

Alguns dos meus exercícios de aula

Ontem me perguntaram por que estava frequentando aquelas aulas, já que eu desenho há tanto tempo. Bom, minha resposta foi "pra fazer direito o que eu quero fazer". Sempre defendi a máxima de que para se desconstruir alguma coisa, é necessário que se saiba construir essa coisa e entender como funcionam suas estruturas. Por mais que exista material nas bancas e na internet ensinando anatomia, acho importante ter a troca de informações com um professor ou alguém que saiba o que está fazendo.

Possível esqueleto do Charlie Brown (Isso foi genial!)

Então, minha proposta é fazer posts com os conhecimentos adquiridos durante as aulas para auxiliar quem tem o mesmo interesse que eu em saber construir coisas para depois desconstruir direito. Quando digo desconstruir, me refiro a deformação das figuras humanas; como fazer essa deformação sem que o personagem perca as proporções e características humanas dele.

Isso dá pano pra criação de personagens bem interessantes! Quando se domina a estrutura do corpo humano e a de um peixe, por exemplo, fica muito mais fácil desenhar uma sereia! =D Pretendo falar de tudo isso nesta série de posts sobre desenho de pessoas. Espero que seja útil.

Se for acompanhar, sugiro esquentar a mão pelo post Quero desenhar! Como começo?. No próximo post, falarei sobre a estrutura da cabeça.

Até lá! o/

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Aplicando Retículas 2/2

Esse é o post de continuação do Aplicando Retículas 1/2

No youtube há uma porção de tutorial sobre como aplicar retículas digitalmente, mas para quem tem preguiça de esperar vídeo carregar,  vou tentar explicar os dois jeitos que eu costumo usar com mais frequência.

O programa que uso é o Photoshop, da Adobe. Existem softwares livres que fazem quase a mesma coisa que ele, com ferramentas parecidas, funções parecidas, e muito mais simples de mexer (Gimp por exemplo). 

Ingredientes:
- uma imagem arte finalizada em preto;
- imagem com a textura que você quer;
- um programa de edição de imagem que contenha ferramentas: seleção (magic wand tool, lasso tool, pen tool), pincel (brush) e borracha.
- teclado com as teclas Ctrl, C, V e Z funcionando bem!

Vou contar novamente com a minha assistente Aoxo para fazer as demonstrações. Então, aqui está o desenho dela devidamente localizado na área de trabalho do Photoshop.

Desenhei agora!

Depois, abra a imagem da retícula que você quer colocar no desenho. Eu tenho uma pasta cheia de texturas e retículas que baixei na internet, fora as que eu fiz por conta própria tanto no power point quanto no Photoshop.

Aqui está a que eu escolhi.

Modo de preparo A:
Use a ferramenta de seleção que você tiver mais facilidade em manipular pra selecionar as áreas da imagem que gostaria que tivessem a textura.

Usei a Magic Wand Tool (varinha mágica) pra selecionar as áreas.
Ela adianta a vida se as linhas do desenho estiverem fechadas!

Aqui eu usei a Rectangular Marquee Tool (seleção retangular)
para pegar a textura. Agora é Ctrl+C aqui...

...e Ctrl+Shift+V aqui.
ou editar>colar dentro

Pronto! O espaço foi preenchido com a retícula.
O lance é lembrar sempre de deixar a camada da linha por cima.

Modo de preparo B:
Para esta parte, recomendo que primeiro façam a leitura deste post do Caixola para desenvolver melhor o uso dos brushes (pincéis), porque vamos precisar deles agora.

Vou continuar com o desenho do jeito que tá, preenchido com a textura, e usar uma nova retícula pra mostrar como se pode preencher áreas de sombra.

Nova retícula para sombras.

Volto no desenho, crio uma nova camada por baixo da camada com linha preta, e escolho a ferramenta pincel (brush). Pego uma cor qualquer pra tinta dele e marco no desenho onde vai ter sombra.

Escolhi azul pra mostrar que pode ser qualquer cor mesmo.

Hora de selecionar essa camada. Costumo segurar Ctrl e clicar em cima do thumbnail da camada, mas isso também pode ser feito usando a Magic Wand Tool pra selecionar o espaço vazio e inverter a seleção depois.

Camada selecionada.

Agora repito o passo de ir na outra aba, a que tem a retícula aberta, e seleciono toda a área de textura antes de dar Ctrl+C. Volto no desenho e vou em Editar>Colar dentro (Edit>Paste Into) ou pelo atalho Ctrl+Shift+V.

Aqui eu alterei a propriedade da camada para Multiply
e escondi a camada com a sombra, mas pode até jogar ela fora!

Depois disso, dá pra fazer um monte de coisas usando esses dois caminhos. Eu ainda conto com uma biblioteca de brushes halftones que ajudam muito na hora de fazer algum detalhe. Todas essas coisas são facilmente encontradas na internet pra download.

Alguns exemplos de brushes halftones

Pronto! Acabou o Cappuccino de hoje. Espero que tenha ficado bom. Caso tenha dúvida, fique à vontade para postar um comentário ou enviar e-mail.


Aoxo se divertiu!

Até a próxima! o/

Aplicando Retículas 1/2

Ano passado eu postei aqui como fazia minhas retículas caseiras e como usava para finalizar um desenho rapidamente, mas eu não mostrei como eu as aplicava. No mês passado eu ganhei de presente três folhas de retículas verdadeiras! Mas como não sei quando terei oportunidade de comprar novas, não vou usar as que  ganhei. Até porque, eu quase não estou fazendo arte final manualmente por falta de tempo, e quando preciso fazer, uso as minhas retículas caseiras.

minhas retículas da Deleter Jr.

A retícula ou screentones, é uma técnica de se aplicar sombra ou texturas nos desenhos. Isso ajuda muito quando se quer mostrar diferentes materiais ou estampas de roupas, ou transição de claro e escuro em uma publicação em preto e branco. As texturas das retículas também podem ser aplicadas em páginas coloridas, para criar alguns efeitos legais que lembram bastante o que se fazia na Pop art.

Então, para mostrar as diferentes maneiras de se aplicar retículas, vou contar com a ajuda da minha querida assistente e OC preferida, a Aoxo! Ela topou servir de modelo para os dois exemplos: manual e digital.

Aoxo, sidekick da Joystick

Processo manual de aplicação de retículas
As verdadeiras são impressas num papel translúcido e auto adesivo, daí você precisa cortar um pedaço mais ou menos da área que você pretende preencher, colar o adesivo em cima e tirar a sobra com estilete.

Já tem cola atrás!

Fazer do meu jeito, com papel vegetal, dá mais trabalho porque a cola entra na história, e se não tiver destreza suficiente, vira lambança. Por isso uso cola em bastão, faz menos bagunça e sujeira do que faria com cola branca escolar.

Apresentada a diferença, vamos aos ingredientes:
- desenho arte finalizado em nanquim;
- retícula caseira impressa em papel vegetal;
- tesoura ou estilete;
- cola (preferencialmente em bastão);

ingredientes ~ 

Modo de preparo:
1 - Recorte os pedaços no tamanho aproximado da área que deseja cobrir

2 - Retire as sobras com o estilete

3 - Cole os pedacinhos nas áreas escolhidas

4 - Você também pode colar primeiro e tirar a sobra com estilete depois

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Até lá! o/