sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Analógico ou Digital?


Um assunto corriqueiro nas rodinhas de ilustradores (profissionais e amadores) é “qual é melhor: o meio digital ou o analógico?”. Acredito que os dois ambientes se completam e que não dá pra escolher qual o melhor e qual o pior... o que podemos decidir, na verdade, é o grau de afinidade que cada pessoa tem com cada um desses ambientes. Lembrando que ter afinidade com uma dessas partes não exclui ter conhecimento na outra.

Neste post reuni a opinião da Suco chan com a minha, porque ela tem mais afinidade com arte digital e eu com a parte analógica. Então, acho que pode gerar uma discussão bacana do tema.

Suco chan


Qual a sua afinidade: analógico ou digital? Por quê?
Prefiro trabalhar com o meio digital por uma série de questões. Primeiro, a facilidade que encontro de não precisar ter recursos disponíveis, como papéis, lápis, tintas, canetas, penas, etc. Posso simplesmente criar um arquivo no meu programa favorito (Photoshop, porque tenho maior intimidade com o funcionamento das ferramentas), criar uma camada pra cada rascunho, e quando consigo um rascunho que acho que vai pra frente, faço a arte final.

Sempre tive muita dificuldade pra desenhar e sou muito bagunceira com meus desenhos. Quando faço um que fica bacana e quero colorir, fico triste se sai alguma coisa errada e acaba estragando. Foi assim que comecei a escanear meus desenhos pra pintar digitalmente antes mesmo de comprar uma mesa digitalizadora. A possibilidade de trabalhar com camadas sem afetar o principal é muito boa, mas acaba gerando vícios problemáticos pro desenvolvimento artístico.
Concept do personagem Pedro - analógico

A parte boa é que com uma única ferramenta (o tablet) o artista consegue ir do rascunho à arte final, simulando várias técnicas disponíveis, nos mais diversos programas pra arte digital, enquanto no sistema analógico as vezes faz-se necessário uma quantidade imensa de materiais. Acaba saindo uma grande economia.

Quando comecei a desenhar no Photoshop, foi muito difícil encontrar configurações que simulassem bem o resultado que obtinha com o lápis. Gosto de rabiscar bastante meus desenhos e só depois reforçar as linhas definitivas. Sempre aprecio mais o resultado dos meus rascunhos do que da arte-final. Pra conseguir desenhar melhor no meio digital, consegui configurar pincéis que simulam os efeitos que obtenho com o lápis ao rascunhar no papel. Já que nem todos os modelos de tablets oferecem uma superfície texturizada, o atrito acaba dando muita diferença e demora pra se adaptar.

Outro ponto ao qual tive que me adaptar foi o uso da borracha. No meio analógico você pode optar por apagar tudo, ou apagar só um pouco pra ainda ver como era o traço errado. Um método que desenvolvi pra simular essa mesma técnica no Photosho foi diminuir a opacidade da borracha. Assim não apago a linha toda na primeira passada.

O que do analógico faz mais falta no digital, e o que do digital faz falta no analógico?
Estou tão habituada a desenhar digitalmente, que ultimamente quando estou com lápis e papel, sinto falta de um CTRL + Z. Quem não sabe fazer no analógico, o digital também não proporciona milagre. Como disse nosso professor do NIC uma vez: “no digital só dá pra desfazer”. Essa só é uma vantagem pra consertar o trabalho rápido.

Sinto falta no meio digital do atrito com o papel, de visualizar a imagem como um todo. As vezes é necessário desenhar uma imagem com uma resolução altíssima e fica complicado trabalhar com zoom reduzido. Sinto falta de ter experimentado mais no meio analógico, principalmente no campo da pintura e sombreamento. Sem essa experiência, fica difícil se desenvolver no meio digital também.

Nane chan

Qual a sua afinidade: analógico ou digital? Por quê?
Minha afinidade é com o meio analógico. Desenho desde que me entendo por gente e naquela época não havia computador em casa, então me virava rabiscando todo e qualquer pedaço de papel branco que aparecia na minha frente.

Demorou muito para conhecer softs de edição de imagem como o paint (conheci aos 6 anos) e mais ainda para conhecer e criar intimidade com o Photoshop. Enquanto não pegava o jeito das artes digitais, eu me virava como podia na tinta e no papel. O ambiente físico sempre me deu mais liberdade de movimentos, variação de materiais, possibilidades de experimentação que acabaram me servindo hoje para explorar as ferramentas digitais equivalentes.

Há pouco postei no cappuccino uma serie de etapas para se pintar com tinta aquarela... bom, eu consigo obter esses mesmos efeitos com a pintura digital em softwares que simulam materiais e possibilitam edição de brushes (Photoshop e Corel Painter por exemplo).

Atualmente pode ser que a liberdade criativa seja maior no ambiente digital por vários motivos: simulação de materiais, tintas, substratos, milhares de cores, etc... mas se a pessoa não souber usar o equivalente no ambiente “real”, talvez o trabalho não tenha a mesma qualidade de um trabalho feito por uma pessoa que dominasse os dois ambientes. Com certeza a migração do analógico pro digital é mais fácil do que o inverso, e saber o que está fazendo evita o retrabalho.

Ainda dependo de papel e lápis pra fazer meus rabiscos (e eu rabisco o tempo todo), mas não sei como vai ser depois que arrumar uma mesinha digitalizadora pra mim. O trabalho talvez migre pro digital, mas meu hobbie continuará sendo sujar a mão de grafite, nanquim, guache, pó de lápis de cor...

O que do analógico faz mais falta no digital, e o que do digital faz falta no analógico?
No mundo digital existem coisas maravilhosas chamadas “atalhos de teclado” e o meu preferido é Ctrl+Z! Gostaria que existisse isso... temos a borracha, mas depois que o nanquim faz a festa no desenho, não há borracha que resolva o cagaço; Já no digital já existe muita metáfora do analógico, é só olhar a barra de ferramentas! Indo um pouquinho além, temos as mesinhas digitalizadoras que elimina apenas a função do scanner, grosseiramente falando.

Mas de todas as coisas, o que sinto mais falta no digital é a emoção de correr o risco de errar!
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A discussão está aberta, só deixar um comentário.
Até a próxima! o/

4 comentários:

  1. Bacana Nanika, fico feliz de contribuir com minha ínfima experiência de alguma forma.

    Uma coisa muito importante que acredito que vale ressaltar nessa brincadeira: não tenho scanner em casa. É uma frustração muito grande pra mim fazer um desenho IRADO e penar pra conseguir compartilhá-lo ou levar pro meio digital pra poder colorir e finalizar.

    Somente nesse sentido meu sketchbook tenha ficado um pouco pra trás.

    Parabéns pela ótima postagem!

    E num posso deixar de mandar um (Y) <= "bundinhaaaaa"!

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    1. Aqui é o contrário: eu tenho scanner mas não tenho tablet. É trabalhoso vetorizar um desenho que eu já fiz a mão todo no mouse depois... Na verdade, não é trabalhoso, é um pouco chato. Dá a sensação de retrabalho.

      Acho que se eu fizesse direto no pc, renderia muito mais!

      Valeu pela ajuda, Sukito!

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    2. Você podia fotografar o desenho do papel e vetorizar por cima da imagem.

      Como não tenho o hábito de desenhar continuamente, quando o faço, é 99% das vezes no papel, por dois motivos: 1, que não sei usar quase nada de aplicativos de ilustração da Adobe; 2, que no PC, o Alt+Tab é logo ali. Não consigo usar o computador se não puder acessar a internet depois de algum tempo. É minha maior desgraça atualmente: não fazer uso saudável dessa ferramenta.

      Desenho com alguma frequência (muito pequena, lastimavelmente) há três anos apenas. Por isso, a minha percepção de bom ou ruim quanto a papel ou PC é mais psicológica do que técnica. Na minha situação, sinto que no PC, o desenho é feito de pixels ou cálculos vetoriais, e no papel, são átomos. Para mim, é mais mágico criar um desenho no papel. Quando pego o papel e os traços saem, é mais realizador, provavelmente porque a máquina é um dispositivo de saída corriqueiro demais para mim. O desenho no papel, pra mim, tem um "calor".

      Isso para mim. A Joy deve ter essa satisfação maior no desenho digital porque é o que a motiva a fazê-lo mais. E, numa arte sem um compromisso técnico maior, é a satisfação que deve te motivar a escolher ora pelo digital, ora pelo papel.

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    3. Nas próximas férias, ou no tempinho livre que tiver, experimenta futucar esses programas de ilustração, Denis. No começo dá preguiça começar do zero a fazer alguma coisa, mas se for mexendo sem compromisso de gerar uma obra prima, aprende rapidinho.

      Intercâmbio é legal!

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