Sabe quando você está sem palavras para descrever uma emoção? Do lugar de onde veio
Mary Poppins (na versão Disney), existe uma palavra que podemos usar em momentos assim: esta palavra é "supercalifragilisticoespialidoso".
Explicado o título deste post, vamos ao que interessa - o conteúdo. Em agosto, o MDC teve como tema "gender bender", uma brincadeira de transformação de gêneros dos personagens. Ficou acordado que poderíamos fazer a mudança de sexo em qualquer personagem conhecido, ou seja, não valia OC (original character) ou familiares, por exemplo. Como na época que o desafio foi lançado eu estava vivendo uma fase Mary Poppins, resolvi que ela seria minha vítima.
Afinal, quem é Mary Poppins?
Embora muita gente conheça por causa do filme, ela é originalmente uma personagem de uma série de livros da escritora
P. L. Travers. Mary Poppins é uma espécie de babá bem diferente, às vezes fria demais, correta demais, mágica demais... e, com o guarda-chuva aberto, é carregada pelo vento.
Meu MDC.
Os primeiros estudos que fiz depois de definir os personagens que trabalharia a inversão de sexo foram "de cabeça", isto é, sem uma referência para consultar. Tudo que tinha era a memória do filme que assisti há alguns meses.
Mary Poppins e Bert - estudos mais crus.
Como as personagens eram, no filme, pessoas de verdade (Julie Andrews e Dick Van Dyke), senti necessidade de estudar melhor a fisionomia dos atores usando referências fotográficas. Além disso, me propus assistir novamente ao filme. Tipo, eu precisa entender como as pessoas seriam se fossem um desenho, para poder desenhar a versão feminina e masculina invertida deles. Tá sacando a roubada em que fui me meter?
Segundo estudo, usando referências antes da inversão de gênero.
O segundo estudo me agradou muito mais! Até comecei a arriscar uma "Berta" e um "John Poppins" com mais confiança para inserir movimento neles. Minha inspiração foi uma das cenas do filme (que existe também no livro) mostrando um passeio das personagens em um cenário desenhando.
Estudo de movimento das personagens com sexo trocado.
Durante os estudos senti necessidade também de ler o livro, porque queria ter a minha própria interpretação das personagens, saber como era a personalidade original delas. O filme apresenta a interpretação Disney da coisa toda, e eu queria chegar as minhas próprias conclusões.
Cheguei até a procurar o livro físico para comprar e achei disponível a edição da editora Cosac Naify, mas acabei não levando pra casa. Procurei as ilustrações originais do livro em inglês e anexei tudo na pastinha de referências.
À esquerda: ilustrações originais do livro. À direita: ilustrações de Ronaldo Fraga para Cosac Naify.
Depois de ler o livro, fiquei em dúvida se refazia tudo do zero, considerando apenas a Mary Poppins e o Bert originais, ou se continuava seguindo a interpretação Disney. Apesar de ter absorvido bastante coisa do livro, resolvi continuar na linha Disney, pois foi como conheci a história - e talvez como muitas outras pessoas aqui no Brasil conheceram.
Mais alguns estudos explorando movimentos e personalidade.
Ainda não estava plenamente satisfeita com o processo de "cartunização" e continuei procurando outras formas de representação. Passei quase o mês inteiro trabalhando nisso, um pouquinho todos os dias, nas horas livres do trabalho, e em alguns momentos dentro do ônibus.
Nesse estudo eu já estava pensando numa possível animação. xD
A essa altura do campeonato eu já estava saturada de Mary Poppins e fiquei quase uma semana só lendo o livro, sem desenhar nada. Todavia (olha eu usando a palavra "todavia") quando voltei ao desenho, me surpreendi com o resultado. Parece que o hiato fez bem e consegui um resultado melhor.
O último estudo das personagens antes de partir pro esboço.
O desenho do Bert, na imagem acima, foi graciosamente colorido por G., meu amigo pessoal e afilhado-por-tabela de 5 anos de idade! Ele estava insistindo para colorir a Mary Poppins também, mas foi facilmente persuadido a desenhar um Ben10 no caderno de desenho dele. xD
Os finalmentes
Desisti de trabalhar também o Bert e foquei apenas na Mary Poppins. Adotei a última versão do estudo como base para inverter o gênero, e procurei não trabalhar imagens comuns, como ela sendo carregado pelo vento.
Optei trabalhar uma cena do filme que me pareceu bastante curiosa: a que Mary Poppins começa a retirar objetos grandes de sua pequena bolsa (um beijo, Hermione), fazendo as crianças ficarem admiradas. Ora, acho que isso espantaria até os adultos normais...
Esboços de duas versões da mesma cena.
No fim das contas, concluí que escolhi o caminho mais difícil para uma coisa simples. Muitas vezes me queixei de ter feito uma burrada escolhendo trabalhar com pessoas de verdade, mas fui cabeça dura e não desisti. Talvez fosse melhor trabalhar a cena icônica do vôo de guarda-chuva, facilitando o reconhecimento da personagem, mas nãããão... Lá fui eu trabalhar outra cena da história...
Desenho finalizado.
Na finalização usei caneta nanquim, aquarela em pastilha, lápis de cor para textura de camurça na bolsa e na fita do chapéu, e caneta gel branca para picos de luz nos sapatos e calça; papel para desenho Canson, 120g/m². Ainda estou na dúvida se gostei do resultado - pra variar. Como resultado de estudo, está ótimo, mas não sei se cumpriu com o quesito "fácil identificação".
O post ficou muito mais longo do que previa... Agradeço imensamente a você que teve paciência para ler tudo, e espero que tenha contribuído de alguma maneira para seu processo criativo. Uma boa pesquisa antes de desenhar ajuda muito a seguirmos o caminho para o melhor resultado, mesmo que neste caminho a gente tropece algumas vezes.
Até a próxima! o/
Espero você no próximo
#MDC.