quinta-feira, 21 de julho de 2022

Porta-pincel do Van Gogh

Os materiais de desenho e pintura andaram se multiplicando aqui em casa e recentemente precisei investir na compra de alguns itens para ajudar na organização. A fim de baratear as despesas, optei por fazer um tour e quase me perdi numa dessas lojinha de artigos em MDF para artesanato e garimpar itens que fossem uteis para o que eu precisava. 

Meu objetivo era ter uma caixinha com divisórias em que eu pudesse colocar pinceis e tintas em uso, para que elas ficassem separadas das demais enquanto o trabalho estivesse em desenvolvimento. Desta forma, eu não teria dificuldade em abastecer o godê ou lembrar quais pinceis pegar a cada sessão de pintura. 


Na loja de artigos em MDF encontrei esse objeto (imagem acima) que chamam de "porta-controle remoto", mas assim... tem esse nome, mas na real dá pra colocar o que você quiser! XD Então comprei 2 e decidi personalizar para ficar com cara de item artístico! rs.

A primeira coisa que fiz foi retirar o pó de madeira e poeira usando uma trincha de cerdas macias. Depois desencaixei as divisórias e usei tinta PVA preta para pintá-las.


Também pintei o interior da caixa de preto e achei que ficou bem legal assim. Em volta da caixinha passei a base acrílica, pra deixar preparado pra receber tinta depois.


As cerdas do pincel estão pedindo socorro, gente! Mas esse já é um pincel que uso apenas para serviços assim, mais brutos. Heheheh!

Para personalizar as laterais da caixinha, busquei inspiração nos meus livros de arte. A princípio me ocorreu pintar cada face dela com uma obra diferente de artistas diferentes; depois pensei que ficaria legal fazer obras de um mesmo artista; e por último, folheando revista com obras de Van Gogh, pensei que talvez ficasse interessante trabalhar a mesma pintura dando a volta na caixa. Escolhi "A noite estrelada", super famosa e uma das minhas favoritas!


Usei tinta acrílica para pintar (as que tenho são as bisnagas das marcas Acrilex e Corfix). Fiquei com preguiça de pegar o medium acrílico pra retardar a secagem da tinta e tive dificuldade em alguns momentos, precisando refazer misturas com mais frequência no godê (prato de isopor). Não sei até que ponto interfere, mas a umidade do ar estava bem baixa neste dia. =P

O resultado foi este:


Querendo aproveitar o restante da tinta no godê, inventei moda na parte inferior da caixa, pintando outra obra de Van Gogh. Desta vez, um dos seus autorretratos.


Van Gogh chateaaaado! Hahahahah! Tenho outra caixinha aqui esperando pra receber um carinho, mas ainda não decidi o que fazer.

Estou feliz com o resultado e feliz por meu cantinho de arte ficar cada vez mais especial. Espero que este post te inspire. 💖

Até a próxima! o/

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Minha primeira encomenda com tinta à óleo

"É preciso copiar e recopiar os mestres, e só depois de ter demonstrado ser bom copista é que lhe será permitido, logicamente, pintar um rabanete a partir da natureza." Edgar Degas*
Olá, meus queridos. Como estão? Hoje está bem friozinho por aqui, e um cappuccino vai muito bem. E é na companhia de vocês, da frase de Degas e desta bebida deliciosa que venho contar sobre uma experiência bem especial: minha primeira encomenda de pintura à óleo.

Me aventuro e invisto nessa técnica desde o ano passado, fazendo testes, leituras e vários estudos com base nas obras de outros artistas (recomendo ver o post sobre a minha Monalisa). Pois bem, foi divulgando esses estudos nas redes sociais que no final do ano passado um amigo me procurou interessado em encomendar uma versão pintada por mim de um quadro religioso com o tema "São José". Logo de cara ele me passou as seguintes referências:



Fique bem assustada, mas fui bem honesta com ele. Disse que estava começando a conhecer o material, que o tempo de espera para a conclusão do trabalho seria bem demorado, e que não era pra ele criar muita expectativa em relação ao resultado, mas que eu faria o meu melhor. A resposta dele, que me surpreendeu, foi a seguinte: "Se eu quisesse igual, imprimia da internet e emoldurava. Encara como se fosse mais um dos seus estudos, não tenho pressa." E assim foi feito!

Acordamos que a obra base então seria São José e Jesus com João Batista pintado pelo artista suíço Melchior Paul von Deschwanden. 


A primeira coisa que fiz foi passar,  usando o método dos quadradinhos, o desenho para a tela previamente preparada e queimada** com tinta ocre. Em seguida, preenchi as camadas de cor base de cada pedaço da pintura, começando pelo fundo.


Quando se trabalha em camadas com tinta à óleo, é importante seguir uma regra chamada de "do magro pro gordo", que significa trabalhar com a tinta mais diluída no solvente primeiro e ir adicionando o óleo nas camadas seguintes, sendo a última a mais gordurosa.


A imagem acima é uma comparação da primeira camada de tinta com a segunda camada. Todo o processo foi documentado ao longo da execução e eu ia mandando as fotos (às vezes até vídeo) pro cliente ver como estava ficando. Ele estava muito satisfeito já na primeira camada de tinta, mas eu precisei explicar que seriam adicionadas outras camadas pro resultado ficar melhor.


Nesta imagem do detalhe do cantil carregado pelo menino João Batista também é possível reparar como as camadas de tinta fazem diferença no resultado. E eu chamo de camadas porque é preciso esperar a tinta secar antes de passar as demãos seguintes. Por isso a pintura com tinta à óleo pode ser demorada.

Outra coisa que eu tenho feito, uma vez que me afasto alguns dias da pintura para respeitar o intervalo de secagem de uma camada pra outra, é anotar as tintas que uso e como faço as misturas entre elas para obter determinada cor. 



Falando em intervalo, precisei paralisar a pintura por um tempo para estudar mais. Obviamente comuniquei o cliente sobre isso e ele foi super compreensivo. Fui à procura de material sobre pintura figuras humanas, principalmente nas técnicas de peles/carnação. Nesta época conheci a paleta reduzida, pintei a Monalisa, ampliei meu repertório visual de pinturas, comprei alguns livros... e só depois retornei ao trabalho (e as anotações lá do caderninho foram uma baita ajuda!). É muito importante a gente entender o que sabe e o que não sabe fazer, e, se tiver oportunidade, aprender ao longo do processo.

O resultado entregue pro cliente foi este:


Definitivamente diferente do original, mas, como o cliente pediu, foi a minha versão. Essa encomenda ocupa agora o lugar de a mais difícil que já fiz (por enquanto), mas contando com a sorte de ter uma pessoa tão compreensiva do outro lado. Me foi permitindo testar, errar, estudar etc sem pressão e cobranças. Acredito que essa "liberdade" (e confiança no meu trabalho) aliada à comunicação constante das etapas de execução foram fatores determinantes para um resultado feliz pra mim e para o meu amigo.

Bom, esse foi o relato da minha experiência e espero que me contem também qual a encomenda mais difícil já apareceu na vida de artista de vocês.

Até a próxima! o/

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* GIRARD-LAGORCE, Sylvie. Degas: a arte do movimento. São Paulo: Folha de São Paulo, 2022.
** Não houve fogo envolvido no processo (risos). Queimar nesse contexto significa passar uma camada fina de tinta diluída com solvente na base da pintura, a fim de neutralizar o suporte ou então para que as camadas de tinta seguintes fiquem com a mesma vibração tonal do fundo.