Você já ouviu falar sobre encáustica? Tive oportunidade de presenciar a técnica visitando o ateliê de Vinícius Zocolotti (@nativa.atelier), artista plástico, terapeuta holístico, arteterapeuta e meliponicultor aqui do estado. Uma pessoa talentosíssima de quem o trabalho admiro muito!
A encáustica, ou pintura com cera quente, é uma técnica artística antiga grega usada tanto para pinturas em cavalete quanto pinturas de mural, e que com o passar dos anos foi adquirindo funcionalidades práticas devido à durabilidade e qualidade. Para confecção das tintas é necessário misturar pigmentos com cera branca ou cera de abelha derretida. É um processo demorado e meticuloso, o qual Vinícius se dedica por completo.
Vinícius Zocolotti em seu ateliê.
Por ser meliponicultor, ele é bem exigente em relação à qualidade das ceras mistas orgânicas e dos pigmentos usados para fazer suas tintas. O processo de fabricação dos bastões é relativamente simples: a cera é derretida e dividida em porções para cada cor de pigmento; depois a mistura colorida é depositada em moldes e colocada para esfriar. Não me foi revelado a proporção de cada item, um mistério que só faz crescer meu interesse no trabalho. Os bastões ficam prontos para uso quando se solidificam por completo, e, segundo o artista, fatores externos como temperatura ambiente e umidade podem influenciar no resultado e no tempo de secagem.
Bastões de cera e materiais para pintura encáustica - ateliê de Vinícius Zocolotti.
Em seu ateliê, Vinícius possui, além das tradicionais ferramentas de pintor - como pincéis, espátulas, goivas etc - alguns objetos de uso doméstico que produzem calor e que são usados exclusivamente para as pinturas, como chapas de fritura (que ele usa como godê), ferro de passar roupa, secador de cabelo, solda, maçarico, entre outros. Desta forma, é possível derreter gradativamente os bastões produzindo efeitos diversos e texturas belíssimas no suporte.
Esquerda: A Roda / Direita: Axis Mundi I
Quadros do acervo de Vinícius Zocolotti - venda sob consultoria.
Devido ao nosso clima tropical com verões castigadores, as pinturas de encáustica são sazonais, tendo seu pico de produção nos meses correspondentes ao inverno. Nas outras estações, a dedicação maior de Vinícius está na confecção dos artigos de sua marca Nativa Atelier, nos atendimentos terapêuticos e no cultivo de mel e alimentos orgânicos do sítio que a família possui no interior do estado. O contato com a natureza também é uma forma de desacelerar o ritmo frenético da vida na cidade, colocar a mente no momento presente, e aproveitar as energias da terra.
As abelhas do meliponário viram motivos de suas obras.
Quadro do acervo de Vinícius Zocolotti - venda sob consultoria.
No seu espaço de criação encontramos sempre músicas étnicas e tribais, batuque, mantras; artigos de decoração místicos; tarots; toneladas de livros; e gatos brincando. Talvez a tranquilidade do ambiente seja uma tentativa de acalmar a mente fervorosa e criativa de quem o habita. É como se a gente se acalmasse e se agitasse ao mesmo tempo... Dualidade digna de soneto de um outro Vinicius.
Detalhe da parede decorada do ateliê.
A encáustica é uma opção de técnica para quem tem receio de sujar a casa toda de tinta. Por ser à base de cera, não corre o risco de manchar o chão nem a roupa, e a manutenção do ambiente de trabalho é simples. Além disso, não há necessidade de aplicar verniz na pintura! A cera que Vinícius usa, quando polida, deixa um efeito brilhoso lindo nos quadros, e ele mesmo ressalta: "quanto mais polir, mais reluzente fica". Porém, deve-se ter todo o cuidado do mundo para não se queimar durante o trabalho.
Fico por aqui, espero que tenha gostado de conhecer um pouco sobre encáustica e sobre a produção artística do Vinícius Zocolotti. Quando puder, trarei mais artistas e seus processos criativos para o blog. Combinado?
Até a próxima! o/
Caraca!!!!
ResponderExcluirTô aqui comendo o doce de leite e me acabando nessa leitura.
Que tema, heim?!
Faz tempo que não ouço nada sobre a encáustica. Vi na faculdade.
Trabalho lindo e delicado.
Fiquei aqui imaginando esse ateliê. Vejo como um lugar extremamente íntimo. Tudo ali diz respeito apenas ao artista.
Um lugar de produção e reflexão. Trabalho braçal e mental. Erro e acerto. Tentativas. No final o artista entrega à obra um pedaço seu.
Os trabalhos dele são muito interessantes, Silvia. Como artista ele é bem reservado, mas eu gostaria de poder mostrar ao mundo esses quadros maravilhosos! kkkkk
ExcluirIsso que você falou do artista se colocar na obra é uma observação bem bacana. Leonardo da Vinci nunca entregou a Monalisa pro cliente por achar que ela ainda não estava pronta. Realmente, como estamos nos reinventando a cada instante, é difícil julgar uma produção como finalizada.
Me dá um teco desse doce de leite aí?!
Bjos, obrigada por comentar.
Opa. Senta aqui e pega uma colher. Amo falar de artes enquanto comemos doce.
ExcluirSim, Leonardo fez isso.
Sabe, essa intimidade com a obra é transcendental e metafísica. Espiritual e além da matéria. Mas é tão pessoal, tão íntimo que se torna impossível ao expectador ser capaz de descobrir a essência da obra. Eu acredito muito que artista e obra estão misturados.
Demais, Silvia. Ainda mais indissociável quando o trabalho não tem caráter comercial.
ExcluirEssa técnica é realmente muito legal, ela da uma tridimensionalidade muito boa as obras. Seu artigo é muito bem detalhado e me deixou com vontade de tentar, um dia, experimentar com a técnica!
ResponderExcluirEi!
ExcluirIsso mesmo, é um tipo de técnica cuja tinta - neste caso o depósito de cera em camadas - proporciona relevo no quadro. Experimente e me conte depois o que achou, ok?
Obrigada por comentar!
Minha nossa, enca...o quee???? Nunca tinha ouvido falar!! Caramba Você sempre trazendo matérias novas e muito conhecimento! Essa é super nova pra mim e achei muito interessante, achei uma arte de respeito literalmente... me fez sentir o grande respeito que ele tem com o material que usa e com a natureza.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar!!
Encáustica. rs
ExcluirApesar de ser uma técnica antiga, é muito difícil ver um artista da atualidade utilizando ela, pois existem hoje tintas e técnicas mais "fáceis" - no sentido de disponibilidade de materiais no mercado, preços, tempo de secagem. O trabalho do Vinícius é uma raridade!