quinta-feira, 5 de junho de 2014

Curupira

Quem acompanha o MDC sabe que o tema do mês de maio foi Folclore Brasileiro e, provavelmente, já viu o Curupira (conhecido como Caipora em alguns lugares) que fiz para o desafio. Também deixei por lá um resumo do processo criativo, materiais usados, técnicas, dificuldades... Essas coisas de sempre. No cappuccino de hoje, vou deixar a versão estendida da coisa toda, com algumas fotos do processo (a galera gosta de ver, que eu sei! xD).

Primeira etapa, sempre: pesquisa!
1. Fui atrás das várias versões sobre Curupira/Caipora, lendas, origem do nome, diferenças regionais... Saber a história de alguma coisa - neste caso, uma personagem - é muito importante para seu desenvolvimento pictórico. Isto é, a gente precisa de embasamento teórico para conseguir representar visualmente.
Das que eu achei, a que mais me chamou atenção pela simplicidade e alguns absurdos, foi esta aqui. Quando li "De acordo com a lenda, ele adora descansar nas sombras das mangueiras. Costuma também levar crianças pequenas para morar com ele nas matas." lembrei do Peter Pan.
2. Procurei referências visuais de representações existentes dessa personagem. Isso te ajuda a ter noção do que não deve faltar, porque o de todo mundo tem; e o que ninguém faz, que pode ser o seu diferencial.
 Algumas das imagens que usei de referência.

3. Quando notei o padrão indígena na origem do nome, na ligação da personagem com o ambiente mais selvagem, e nas representações, também fiz uma busca de imagens para crianças indígenas envolvidas em algum tipo de interação com a natureza.
 Cada foto mais linda que a outra... Santo Google!

Segunda etapa: desenvolvimento.
Aqui é a parte autoral da coisa toda. É quando a gente pega papel de rascunho e rabisca descompromissadamente as possibilidades. Fiz muitos estudos, inclusive na minha agenda do trabalho entre um "job" e outro! (Olha eu, metida a besta, usando gíria de publicitário xD)

Depois que você rabisca tudo que tem direito, escolhe o que ficou melhor resolvido dentro da proposta e segue como "partido adotado". Aí sim é hora de fazer o esboço definitivo, arte final e colorização. No meu caso, optei por trabalhar o Curupira como uma personagem aventureira e brincalhona, que protege seus amigos (animais, crianças, natureza, etc), e capaz também de ser perigoso aos seus inimigos.

Meu partido adotado. Me deixei levar pela impressão "Peter Pan".

Terceira etapa: finalização.
No começo, estava inclinada a finalizar o desenho com lápis de cor e até desenhei em formato reduzido (20cm x 20cm) pensando nisso. Acontece que, do dia que terminei o esboço até o dia que finalizaria, tive contato com alguns trabalhos em aquarela, e isso me influenciou na mudança de técnica.

Contorno: caneta nanquim Uni-pen 01/ Cores: aquarela bisnaga Pentel e aquarela líquida Ecoline
Pincel: redondo orelha de boi e pêlo de marta, numeração variada/ Papel: Canson Layout 180g/m².

Meus trabalhos costumam ter a linha de contorno bem mais pesadas (mais grossas) do que a utilizada no Curupira acima. Isso me causou um pouco de estranhamento, e por isso optei trabalhar mais contraste em algumas áreas usando lápis de cor de tons marrons, amarelos e vermelhos.

Versão finalizada do Curupira/Caipora. 
Para visualizá-lo na galeria do DeviantArt, clique aqui.

Quarta etapa: reflexão sobre o trabalho.
Chegamos aos finalmentes... Hora de sentar, olhar pro desenho, contar as dificuldades e tirar conclusões. E bom, dificuldades eu tive várias! A maior delas foi conseguir torcer os pés do Curupira, e não sei se fui tão feliz no resultado. No momento acho que tá bom, talvez o melhor pé que eu já desenhei na vida... mas ano que vem posso morrer de vergonha disso. Tentei pensar no encaixe dos ossos e de como a musculatura se envolveria neles, além de procurar o novo ponto de equilíbrio que isso geraria.

Além das dificuldades na anatomia, faltou ter em casa papel específico para trabalhar aquarela. O papel que usei é bom para uso de marcadores e nanquim, mas a superfície lisa dele atrapalha um pouco a condução da tinta. Em outras palavras, a gente precisa cortar um dobrado!

Para não dizer que só tive problemas, vou confessar que, de modo geral, gostei do resultado. Pude relembrar as aulas de desenho de anatomia dos tempos de faculdade, tive oportunidade de trabalhar e estudar algo mais complexo, me diverti e gerei mais uma peça legal pra por no portfólio. \(^.^)/

Encerro por aqui. Obrigada por acompanhar o processo criativo e espero que tenha ajudado de alguma forma em seus projetos atuais ou futuros. Ah, e não deixe de participar do MDC, vale a pena! Até mais! o/

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Art trade - Tiozinho da Joyce

Ufa! Finalmente consegui um tempinho pra postar no Cappuccino este mês. Hoje é feriado aqui na minha cidade e não teve expediente no trabalho, o que me rendeu algumas horas a mais de sono e uma parte da tarde para desenhar. As coisas em maio estão super corridas pro meu lado, mas prometo explicar o motivo dessa correria toda nos próximos posts.

O tiozinho
Em abril descobri no sketchbook da Joyce, minha amiga pessoal e dona do blog Caixola, um esboço muito legal e pedi a ela permissão para arte-finalizar e colorir o desenho. Para minha surpresa, a honra me foi concedida sem dificuldade. xD

Tiozinho da Joyce

O que mais gostei nesse desenho foi... tudo! Desde o estilo escolhido para representação até a personalidade da personagem passada pelas roupas e pose. Minha leitura foi de um senhor que trabalha como inspetor da polícia, detetive, algo do tipo, sabe? Sujeitinho durão no trabalho, e bonachão em casa com os filhos. Huahauhauah Sim! Pensei nos filhos dele também!

A Joyce estava aqui em casa em ocasião do aniversário da minha mãe, e, enquanto esperávamos a festinha começar, ficamos no meu "quarteliê" (quarto + ateliê) desenhando e jogando conversa fora. A arte final e o começo da pintura foram feitos nesse meio tempo. Quando a festinha começou, parei de pintar e só retomei a atividade hoje à tarde!

Resultado.

Usei nanquim nas linhas de contorno e preenchimento das áreas pretas, e Ecoline na colorização. Por fim, utilizei caneta gel branca para fazer um fios brancos no cabelo da personagem.

É sempre um desafio finalizar o desenho de outra pessoa, porque querendo ou não, você acaba colocando um pouco de si no que está fazendo, e a interpretação pode não ser a mesma do primeiro autor. Em situações assim, é comum o diálogo entre as partes, mas neste caso pouco discutimos a respeito.

Gostei do resultado, mas será que Joyce vai gostar? =P

Até a próxima! o/

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Estudo furreco Fuleco

Nossa, já é maio?! Este ano tá ligeiro que só!
Passei o último feriadão estudando para um concurso, e senti muita vontade de desenhar enquanto isso. Desde quando comecei a trabalhar fora de casa, meu tempo pra desenhar caiu vertiginosamente, e a produção se restringe basicamente ao que faço na agência. Ontem, no entanto, já com a cabeça cheia de citações de autores, fechei todos os livros que estavam abertos na minha frente e fui rabiscar alguma coisa despretensiosa.

Esboço do Fuleco - mascote da Copa Mundial da FIFA 2014

A ideia de desenhar o tatu-bola mais famoso dos últimos tempos veio de uma conversa que tive dia desses com alguns amigos sobre os preparativos para a Copa. Tudo bem que o povo está "revolts" com a história das obras, falta de estrutura, desvios disso e daquilo... mas poxa, cadê aquele espírito divertido dos vizinhos se reunindo pra cortar barbante e pendurar bandeirinha na rua, e pintar os muros das casas com mascotes?

Desabafo de lado, prossegui meu estudo experimentando um pouco de teoria da cor, no que diz respeito a percepção cromática, misturas, efeitos, etc, baseado no que li sobre o assunto durante o fim de semana. Em relação a isso, os autores dizem que as cores são percebidas individualmente, mas podem sofrer alterações em função das cores adjacentes.

Exemplo do comportamento do mesmo tom de cinza sobre fundos coloridos.

Aí catei meus materiais pra colorir o Fuleco. O desenho foi feito naquele sketchbook de papel vergê cor-de-salmão-grelhado, pras linhas de contorno usei caneta nanquim, preenchi o fundo com tinta nanquim preta, e trabalhei o adorno do fundo com canetinhas aquareláveis.

Fuleco ainda preto e cor-de-salmão-grelhado

Quando a área preta não existia, os misturas de verde estava com aspecto apagado devido ao contraste com o papel. Depois que preenchi o fundo todo com nanquim, o verde saltou tanto que pareceu uma forma recortada. Fuleco então, nem se fala! Ganhou destaque, valorizou a figura, silhueta... 

Mas o mais legal aconteceu quando terminei de colorir:

Fuleco colorido com marcadores à base de álcool.
Melhorei o acabamento do fundo verde usando lápis de cor.

A camisa dele e o fundo dos olhos ficaram brancos!!! Não, não usei nenhum material branco pra colorir a camisa, isso é apenas o efeito causado pelo contraste das outras cores em volta da área da camisa. Ela continua cor-de-salmão-grelhado, mas quando o cérebro pensa nas outras cores mais escuras em volta, faz com que a área mais clara seja percebida diferente. \o/ Fim!

Moral da história: pensar nas cores usadas em um projeto é muito importante. É preciso estudar o comportamento dos contrastes, das misturas, das sobreposições, das paletas possíveis, e das variações, a fim de evitar que o resultado fique comprometido. Os diferentes tipos de luz (do Sol, da lâmpada, do fogo) também interferem na nossa percepção das cores, e a iluminação do local onde seu desenho vai ficar exposto (pendurado na parede do corredor da sua casa, no Louvre, na embalagem de um produto no supermercado) precisa ser levada em consideração no projeto. =P

Até a próxima! o/
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Atualizando o post com algumas dicas de leitura pra quem se interessa por cor:
- GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. SP: Blume, 2002.
- FARINA, Modesto, Psicodinâmica das cores em comunicação. 5° ed. São Paulo: Edgard Blusher, 2000