quarta-feira, 6 de abril de 2022

Existe diferença entre Guache e Aquarela?

Por muito tempo ensaiei trazer esse assunto para o blog, mas me perdia pensando na melhor forma de fazer isso. Tenho algumas postagens sobre tinta aquarela e outras sobre tinta guache, mas acho que nunca abordei as diferenças entre elas.


Enfim, depois de me amparar na literatura e preparar um pequeno estudo prático para exemplificar as descobertas, criei coragem para trazer a discussão pra cá.

Composição das tintas:
De acordo com o livro Manual do Artista, "o guache é uma aquarela opaca" (MAYER, 2015). Ou seja, há pouca diferença na composição das duas tintas.

No livro ainda encontramos a seguinte explicação: "As tintas guache são feitas pela moagem de pigmentos no mesmo medium utilizado para aquarelas, mas se utiliza uma porcentagem definitivamente maior de veículo do que é usado na aquarela e com adição de vários pigmentos inertes, como gesso-cré ou blanc fixe (...); assim se obtém o efeito opaco" (MAYER, 2015).

Na prática:
Ambas, guache e aquarela, são tintas solúveis em água e podem ser encontradas no mercado em potes, bisnagas ou pastilhas. A maior diferença entre as duas está no objetivo esperado com a pintura, pois dão resultados distintos em relação à técnica. Enquanto a aquarela valoriza as transparências das cores, que se misturam com sobreposições de camadas, escurecendo gradativamente o papel branco, que permanece visível; o guache proporciona resultados opacos, cobrindo completamente o substrato, independente da sua cor original.

Inclusive você pode usar tinta aquarela mais concentrada para simular técnicas opacas de guache, assim como pode diluir suas tintas guaches para obter efeitos aquarelados, como mostrarei a seguir.


Fiz dois desenhos iguais em uma folha de papel para fazer o experimento de usar guache como aquarela, diluindo bastante a tinta e trabalhando camadas translúcidas; e aquarela como guache, diluindo pouquíssimo e misturando algumas cores com branco, para ter resultado ainda mais opaco.

Estudo 1 - Aquarelando guache
Para "transformar" guache em aquarela, é preciso aguar bastante a tinta. Neste estudo optei por usar apenas as 3 cores básicas (ciano, magenta e amarelo) de guache em bisnaga (marca TGA) na paleta, e fazendo as misturas necessárias para obter novas cores, incluindo tons mais escuros.


Usei pincel redondo de cerdas sintéticas, sempre úmido, retirando o excesso de água com ajuda de um guardanapo para não danificar as fibras do papel.


A imagem acima foi o resultado do primeiro estudo.

Estudo 2 - efeito de guache com aquarela
O segundo desenho foi trabalhado com a tinta aquarela também em bisnaga (marca Pentel), pouco diluída. Usei umas 6 cores diferentes, e misturei algumas com branco a fim de conseguir tons pasteis também. Aguei o suficiente para a tinta aderir ao pincel e deslizar no papel.


Usei pincel redondo, número 2, para ter mais precisão. Optei aplicar as cores de forma blocada, para intensificar ainda mais o efeito opaco característico de guache.


E a imagem acima foi o resultado do segundo estudo. É possível notar a diferença de textura que a tinta sem diluição adquiriu no papel.

Considerações finais:
Mesmo não tendo diferenças gritantes na composição, precisamos entender que cada tinta tem sua técnica/aplicação correspondente. Apesar de ter conseguido manchas e efeitos bem próximos da aquarela, o guache ainda se manteve opaco e de toque áspero depois de seco. A aquarela, por sua vez, se comportou muito bem como guache, mas seria um gasto desproporcional o seu uso em trabalhos de grande escala, tendo em vista que foi feita para ser diluída.


Queria falar das diferenças, mas fui me empolgando e acabei falando das semelhanças. Se você nunca teve contato com essas tintas e ficou na dúvida de qual das duas comprar para experimentar, use como critério de desempate o objetivo e resultado esperado para seu trabalho. Para massas de cores mais opacas, que ofereçam cobertura total do papel - seja ele de qualquer cor: use guache. Mas se quiser trabalhar com transparências, manchas, sobreposições e delicadeza: aquarela.

Espero que este post tenha sido útil... Se ficou alguma dúvida, pode me escrever, viu? E se você já trabalha com esses materiais, fique a vontade para compartilhar sua experiência aqui nos comentários e ajudar quem está se aventurando. S2

Até a próxima! o/

4 comentários:

  1. Que post legal Nane! Antigamente, antes de adquirir minha primeira aquarela, usava guache aguado para simular "aquarela". Atualmente, venho tentando aceitar os "poderes e deficiências" de cada tinta e procuro tirar o melhor que posso delas. Tenho menos dor de cabeça assim... kkkkk Mas aprendi um jeito de usar o guache, assistindo a um vídeo de um ilustrador do Estúdio Ghibli que nunca havia usado e gostei bastante. Mas por ser trabalhosa e exigir uma certa "estrutura", usei apenas umas duas vezes. Que é a técnica de pintar "úmido sobre úmido". No início o guache funciona como a aquarela, inclusive expandindo e se mesclando, pois não só o papel esta molhado, como o guache também está diluído. É incrível, mas muito trabalhoso. Mas é muito importante conhecer as características de cada tinta e esse tipo de estudo é muito bom para ensinar isso. Como vario muito os materiais e técnicas, tem horas que me pego tentando definir algo na aquarela como se estivesse usando guache e como disse, é um desperdício daqueles. Dá vontade de me bater, se eu quero resultado de guache, é só usar meu material favorito. kkkkkk

    Além disso, tenho estudado acrílica ostensivamente e o que mais adoro nela é que une as características tanto do guache, quanto da aquarela. Ou seja, transparente e volátil como a aquarela ou opaca e estável como o guache. E ainda pode ser estruturada para simular o funcionar como tinta óleo com a técnica "a la prima". É uma p¨!@ tinta e de baixo custo!!! Estou adorando!

    E para concluir esse capítulo de livro, digo que suas pinturas ficaram muito bonitas. Além do fato de (ao meu ver) ter conseguido os resultados que queria, simular uma tinta com a outra. Ambas realmente apresentaram esses resultados. Parabéns!!!

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    1. Que interessante essa técnica do úmido sobre úmido com guache! Qualquer dia vou pesquisar com mais profundidade para tentar um exercício. Ainda sou nova nesse universo que você tanto domina.

      A acrílica é realmente uma tinta muito versátil! Gosto muito de usar em projetos que demandam rapidez na execução. Outra vantagem é que não precisa de verniz e podem ser aplicadas em quase qualquer superfície.

      Muito obrigada pelo seu comentário, Mateus!

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  2. Comparação interessantíssima. Achei que a Aquarela ficou em vantagem, ela ofereceu o resultado do guache e ainda continua sendo boa quando diluída para transparências.

    Nunca usei guache, mas esse post só confirmou a aquarela combina mais com meus gostos.

    A tinta acrílica também pode ser diluída com água. Usei algumas vezes e tive boas experiências.

    No mais, belo texto, post perfeito!

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    1. Ei, Andy! Muito obrigada pelo seu comentário.
      Realmente a aquarela leva uma vantagenzinha em termos de função. Mas, como vimos, financeiramente não compensa comprá-la pra usar como guache, pois o valor/ml de tinta é bem mais elevado.

      Você e o Mateus falaram da experiência com acrílica. Uma coisa interessante sobre ela é, ao contrário da aquarela e da guache, ficar impermeável depois de seca. Apesar de ser uma tinta solúvel em água quando sai da bisnaga ou do potinho, sua carga é composta por polímeros e literalmente vira plástico quando a parte líquida evapora.

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